segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Fariseu não é aquele que discorda de você


Tenho estudado o comportamento e o fenômeno de como as comunidades se organizam eclesiasticamente por pelo menos 8 anos. Durante muito tempo freqüentei várias igrejas diferentes, vi coisas que até Deus duvida e outras que muitos cristãos também duvidariam.

Uma das práticas que considero superficial, mas que pode causar um grande estrago, é o "farisaísmo" e o julgamento daqueles que não enxergam a Cristo como você. Ao longo de quase 20 séculos as igrejas locais têm um pensamento que deve ser extinto para um crescimento espiritual significativo do corpo. Este pensamento atualmente é definido por duas palavras: heresia e fariseu.

Heresia na teoria é tudo aquilo que contraria uma doutrina, um credo, um pensamento religioso. Na prática chamamos de heresia tudo aquilo que é contrário ao que está em nossa cabeça. Veja bem, o que muda é o referencial. O grande problema é que partimos do pressuposto que por seguirmos a Cristo, nós vivemos na verdade mais verdadeira que existe. Se eu vivo na verdade, e meu irmão vive de maneira diferente, logo ele é o herege. Critério pouco "cristão", mas que domina nossos templos.

O mesmo ocorre com o farisaísmo. Quando você não está disposto a desfazer-se de sua religiosidade, você está sendo como os fariseus. Porém o que ocorre nestas situações é que a pessoa, não disposta a curar-se de sua religiosidade extrema, acusa os outros de serem fariseus por pensarem de forma diferente.

Talvez este quadro seja caricato e você que está lendo pense que este texto vale para os outros. Mas se você começar a prestar atenção nos pequenos detalhes do seu dia a dia, perceberá que todos nós temos este tipo de atitude em algum grau.

Agir de forma diferente, implica em ter a mente aberta e ouvir opiniões diferentes de forma amável e amigável. Respeitar, mesmo os que crêem em teorias absurdas, pois, se alguém crê em algo absurdo é por algum motivo que impactou esta pessoa, e abrir-lhe os olhos, não será através da força, muito menos fazendo chacota de suas crenças ou julgando.

Se compararmos os fariseus com os cristãos de hoje, será que encontraremos grandes diferenças? Que tipo de atitudes transformaram a palavra "fariseu" em um adjetivo?

O fariseu é aquele que coloca sua religião acima das pessoas. Quantos de vocês que acompanham este artigo, deixariam de ir na igreja porque um irmão está precisando de ajuda? Mesmo que você seja o responsável pelo louvor? Ou até pela mensagem? Lembre-se que o pastor da parábola, deixou as 99 ovelhas para buscar a que estava em apuros. Uma tarefa que eu tenho tido muita dificuldade durante toda minha vida, é encontrar algum pastor como o da parábola (Lc 15). Penso que os que foram intitulados "pastor", dificilmente iriam aos domingos nas igrejas, se realmente pastoreassem. Seria bom, pois, a pregação estaria nas mãos dos mestres, que têm dom de ensinar, e não dos pastores (que tem o dom de aconselhar, acompanhar e cuidar).

O fariseu também é aquele que está sempre pronto a acusar. Se julga digno disto, pois pratica todos os ensinamentos de sua religião (Lc 18 9-14). Ele cumpre rigorosamente com suas tarefas ministeriais, ou pelo menos passa esta imagem. Vemos muito deste tipo de farisaísmo nas questões que envolvem disciplina de membros. A igreja de hoje é a igreja dos panos quentes, que muitas vezes deixa questões no ar, sem resolução. Mas quando algum membro tenta cumprir com o ensinamento de tratarmos de todas as nossas desavenças, a liderança o corta pela raiz e o sataniza. O politicamente correto do senso comum evangélico, que é o pensamento: "não crie polêmicas, fique quieto e finja que está tudo bem" - mesmo que contrarie a doutrina cristã, se tornou algo que almejamos. Pensamos que esta postura, significa ser pacificador.

Outra conseqüência direta das práticas farisaicas é a satanização de todas as igrejas locais que não sejam a sua própria. Alguns protestantes podem identificar isso com mais intensidade no neopentecostalismo, pois, digamos que em muitas igrejas neopentecostais esta característica é menos mascarada. Por exemplo: "se você não fala em línguas, não é salvo". Alguns grupos como o G12 exageram mais ainda: se você não participou dos rituais de regressão do G12, você não é salvo. Mas isto não é característica só do neopentecostalismo. A satanização deste tipo de pensamento, é a contrapartida, e iguala o protestante ao neopentecostal. Apesar de pensamentos como este serem claramente errados, devemos respeitar o pensante. Odeie o pecado, ame o pecador.

Esta última característica provoca atitudes consideradas corretas, mas que na verdade são dignas de um fariseu. Por exemplo, com toda boa intenção do mundo, você recebe um convite para ir a uma igreja ou a alguma programação específica. Mas por detrás deste convite a pessoa tem o pensamento de que a igreja dela é melhor, e que você precisa ver o que acontece lá para conhecer Cristo mais profundamente, ou até, na visão de muitas pessoas, converter-se de verdade. Cuidado! Respeite também o ambiente em que as pessoas vivem sua religiosidade, seja ela qual for. Se você acha que conhece melhor a Cristo, mostre isso em suas atitudes, senão será mero achismo.

Portanto irmãos, tentemos seguir amando o nosso próximo, e deixemos que Deus nos use no nosso dia a dia, sem que o ambiente eclesiástico seja tão ou mais importante do que pessoas.

Graça e Paz
Carlos Zillner

Um comentário:

  1. muito interessante isso...
    eu lembro q qndo eu disse para um pessoa que não importava o dia, mesmo que fosse um domingo, que eu deixaria livremente banda ou aula que estão previamente marcadas, para estar com ela na dificuldade, esta pessoa chorou copiosamente.
    Detalhe que esta pessoa faz parte de igrejas a pelo menos 25 anos. Nunca um pastor havia se disposto a isso...

    Há muita coisa podre no reino do Evangelicalismo....

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